sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Partes do Sentir

Seguindo interpretações dos Yoga Sutras de Patanjali (250 A.C), vou descrever as várias partes do sentir-se, como nós nos vemos, como nós nos sentimos perante nós mesmos, com o que sentimos, como é nossa consciência, grande pretensão, mas é como estou entendendo estas questões hoje, depois de ter lido muitos livros, praticando uma boa parte das técnicas neles descritas. Este sábio indiano, Patanjali, escreveu, registrou a tradição oral das técnicas do Yoga. Este trabalho é considerado o primeiro trabalho científico que se tem notícia, muito utilizado como fonte de referência na física quântica, embora raramente citado na bibliografia, por preconceito talvez. Os aforismos são também usados na Arte em geral, na Psicologia, Filosofia, em estudos esotéricos, tipo Ocultismo, Teosofia, Magias em geral. A complexidade da estrutura que compõe o que poderíamos chamar Si Sido Sendo Será - termo que inventei agora, para dar o sentido de que o Ser humano é dinâmico – demandará ainda muito estudo, mas o que já se sabe pode levar, como já levou, muitas pessoas a estados de auto-conhecimento avançadíssimos, mas aí é assunto para outros posts.

Manas

É o pensamento, fluxo contínuo de prana capturado na respiração, sem diferenciação seletiva mais profunda, sem consciência de interesses mais elaborados, a não ser a discretização das necessidades do corpo físico, mais cerebral, permeia o sistema nervoso, entre as sinapses, neurotransmissores e as cadeias do holograma que forma a rede neuronal principal, elemental humano, semi-funcional, automático, viciante, mas importante para as funções semi-conscientes do ser como um todo. É a primeira diferenciação da Matéria, como energia concentrada e que possui qualidade sattva (primeira luz da consciência e a inteligência sem atributos morais ou espirituais). Manas organiza a interpretação do que entra pelos cinco sentidos e o que fazer com as informações, num questionamento aparentemente já direcionado, mas com possibilidades lógicas de caminhos alternativos de uso da informação, aqui ocorre a formação dos vícios e apegos, as sementes de satisfação dos sentidos, numa repetição incessante de busca de prazer, logo seguido de dor, alternando confusamente os estados básicos, para o ser humano que ainda se entende como corpo físico. Comparado com tecnologia da informação é o hardware.

Chitta

É a mente, conjunto de toda informação retida, intelecto, banco de dados, são impressões, vincos psíquicos, como é dado armazenado, latente sem função aparente, pode levar à induções, pulsão, impulsos para uma ação, que pode ser com sentido, na automação das funções biológicas ou sem sentido, analisados à luz dos princípios psicológicos. Quem pode orientar objetivamente o funcionamento de Chitta e Manas é Ahamkara através de Buddhi, veja a seguir estas duas partes do ser humano.

Ahamkara

É a percepção focal, testemunhal, do observador, como consciência de tudo que temos e vemos, interior e exterior, o centro de referências, a presença das representações do mundo, como percepções, desejos, sensações e imaginação. É o eu ilusório, com suas descontinuidades da consciência, a sensação de que somos uma coisa só se dá pelo fluxo contínuo de pensamentos, o eu representativo para fora, para o mundo, é persona, a máscara da personalidade, conjunto de eus. A vivência de Ahamkara no mundo social produz um resultado enganoso de identificação do espírito com a matéria, com a vida mental de prazer e dor na gratificação do ego, que parece ter e querer tudo tentando se diferenciar em relação ao outro. Este eu pessoal, individualizado precisa ser dissolvido, para que a totalidade das vivências se consolide como unidade transcendente, o Si Mesmo, existe nos Yoga Sutras uma metodologia para alcançar este estado de realização. Aqui poderíamos fazer uma analogia como sendo o software, o programa em funcionamento, e o Usuário quem seria? Veja abaixo.

Buddhi

É o princípio mais elevado, a primeira manifestação do Espírito na Matéria, energia cósmica que tudo permeia, mas ainda não diferenciada, energia emanente, sem passar por nenhuma consciência, quando manisfestada por alguma consciência é a Inteligência humana individualizando a Inteligência Divina, todo o cosmo é Buddhi.

É dela que no mundo relativo ao sujeito surgem as:

Cinco faculdades sensíveis (tanmatras):

  • Sonora
  • Tangível
  • Visível
  • Sápida
  • Olfativa

Cinco elementos (buttas):

  • Éter
  • Ar
  • Fogo
  • Água
  • Terra

E como manifestação do sujeito frente aos objetos surgem as:

Cinco faculdades de ação (karmendriya):

  • Palavra
  • Preensão
  • Locomoção
  • Excreção
  • Prazer

É função de Buddhi o discernimento (viveka), pois o Intelecto tem todas as informações para tomar decisão, pois tem visão de todos elementos iguais ou opostos. Enquanto a natureza de Manas é a dúvida, o ser ou não ser, Buddhi é a certeza através da intuição, aquilo que vem lá do fundo, da suposta descontinuidade do ser, do inconsciente.

Associando os sentimentos verdadeiros e a concentração obtida na meditação, consegue-se um estado de harmonia e serenidade, a manifestação do contentamento e alegria expande a consciência. Através de uma mente quieta, pode-se perceber uma Presença que nos traz Paz e certeza que Ele e nós somos Um.

Jai Guru.